Ao chegar em casa, deparei-me com uma cena muito comum para mim: minhas vizinhas batendo papo. Bem, até aí, uma situação, eu diria, prosaica. Ambas têm mais de 70 ano. A mais velha tem o hábito de sentar-se na cozinha da outra quando volta do pão, no fim da tarde. No entanto, hoje, especialmente, o que me chamou à atenção foi o que disse a visitante ao me ver chegar, cheia de compras, suada, exausta. Aquilo me soou como um tapa: “Estou fazendo uma hora aqui, como sempre”e voltou à conversa com sua interlocutora, ignorando mesmo a minha resposta “amarela”.
Desde menina, ouço essa expressão e nunca, nunquinha parei para pensar sobre ela, pois era, para mim, tão familiar! No entanto, hoje, aquela mulher me fez perceber que “fazer hora” não faz mais sentido para mim. O que é, afinal, isso?! Faz hora quem ainda tem tempo, quem acredita que o tempo existe ao seu bel prazer e o faz. Ela decide! E eu a invejei...Confesso, meio envergonhada, invejei aquela senhorinha magrinha, sorridente, de movimentos lentos, pois ela PODE “fazer hora”.
Eu, ao contrário da minha vizinha, sou escrava da hora. Ela me aprisiona, conduz, impõe. De repente, vejo-me correndo feito louca, mendigando que ela (a hora!) permita-me existir e cumprir compromissos. E me dou conta de que raramente posso trocar ideias com amigas, assim, sem tempo, sem limites. Já não colocamos cadeiras na calçada para trocar farpas, ou mesmo tecer comentários ou simplesmente rir da vida, do outro, de nós mesmas contar causos.
Mas elas já aprenderam a não terem pressa. O tempo agora é só um aliado para o ócio criativo. Um instrumento que elas já aprenderam a não provocar. Talvez já tenham aprendido também a não competirem com ele, muito menos tentar bajulá-lo. Elas sabem que dependem dele, mas buscam driblá-lo, pois sabem que ele não é amigo de ninguém, mas dos próprios caprichos.
Minhas vizinhas trocam ideias, zombam de mim, silenciosamente, e devem se perguntar: “para que ela corre tanto?”. E seguem...fazendo hora.
Rozana Pires / 18 de junho 2010
Uma boa prosa!
ResponderExcluirObrigada!
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