Começo com uma reflexão sobre o Carnaval de 2010.
"CarnavaItiano"
A cidade começa a rebulir-se num ritmo alucinantemente próprio. O ano começa a começar... Danielas e Ivetes; Browns e Psiricos; Reboletions e Lobos-maus; Trios e Cortejos que disputam o poder de mandar, de conquistar um exército cada vez mais hipnotizado pelo glamour de ser, de viver, de acontecer. Afrodescendentes a trançarem cabelos e a própria história. É a hora da negritude baiana, verdadeiramente. É a apoteose da raça, que viverá uma semana de igualdade racial, na sua inteireza social. Fingiremos que somos todos iguais, separados apenas pelos diferentes ritmos que, ao final, serão também, de todos e para todos os gostos. Misturaremos cores e sorrisos. brancos e negros encontrar-se-ão num só coro, rodopiando na Avenida ou na Barra como iguais, mas tão desiguais nas suas realidades ácidas e distantes. Formaremos um só corpo, mas vestiremos diferentes marcas e aí estará a marca de quem somos e de onde viemos.
Há, de forma velada, um terremoto de de emoções e expectativas. Há a ansiedade dos que acreditam estarem esperando o bonde da felicidade, do ritmo, da cor, da alegria. Afinal, é Carnaval! É um terremoto de alegria, de fantasia, de esquecimento sem culpas. E nossos negros cantarão e rebolarão, desenhando charme e sensualidade. Assim assistiremos ao terremoto brasileiro de pura alegria que contrastará com o terremoto que abalou o Haiti dos negros pobres e esquecidos pelo mundo. Negros que agora "dançam" como animais, num ritmo de frenético desejo de sobreviver. Homens feridos em sua dignidade, em seu direito de "ser"; que lutam por água e um prato de comida como animais acuados e agredidos no seu direito básico de viver.
assim, damos as costas à dor que maltrata o coração e a alma de tantos haitianos, punidos pela natureza, perdidos na própria história, maltratados no próprio destino. Crianças órfãs, mães sem filhos, velhos sem passado, um mundo destruído.Enquanto isso, num continente não muito distante, numa terra de sol e luz, outros negros brincarão e rirão e se permitirão ter esperança. Farão coreografias e terão, a seus pés, brancos que se renderão a seu ritmo, a suas cores, a seu sorriso amplo. Tudo herdado daquele negro de lá, que chora a sua desgraça e se contenta com as mãos que lhes são estendidas de longe. Mas vamos esquecer. Ficar lembrando, para quê??!! É Carnaval!!!
Escrito antes do Carnaval (Claro!!!)
"De todos os santos, encantos e axé, sagrado e profano, o baiano é Carnaval." Moraes Moreira.
ResponderExcluirBjo Róo! Antenor Neto.